eu… beijo, com o coração.
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Cartão Postal.
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“Presentes de tempo e amor são, decerto,os ingredientes básicos para um verdadeiro feliz Natal”.
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Essência de nossa gente
Adélio Sarro (Brasil, 1950)
óleo sobre tela
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Ontem foram divulgados os cartazes da Copa do Mundo de 2014. São 12 ao todo, um para cada cidade sede: uma boa mostra das nossas artes gráficas, com muitos altos e baixos. O cartaz para o Rio de Janeiro me desapontou. Não está entre os meus favoritos, mas há piores. O representante da minha cidade, inclui três elementos-chave: o Pão de Açúcar, o jogador e a bola. A cidade repercute o ritmo do futebol. Uma ótima ideia, que poderia ter tido resultado melhor. O cartaz mostra o movimento repetitivo do jogador, como nas embaixadinhas, refletindo-se na paisagem carioca, ecoando nas formas do Pão de Açúcar e mais adiante nas ondas do mar e no céu. Conceito bom para uma cidade que se orgulha da ginga que tem, da paixão pelo esporte.
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Designers Julia Gostkorzewicz e Eduardo Leichner. Modo Design e Informação.
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Mas poderia ter tido uma solução visual mais interessante. O resultado está pesado: cores fortes demais, sólidas demais. Faltou espaço em branco para a pausa na informação. Faltou espaço para se respirar visualmente. Há muito movimento em pouco espaço. Faltou também elegância no traço e leveza, características das artes gráficas brasileiras. Criado pelos designers Julia Gostkorzewicz e Eduardo Leichner, daModo Design e Informação, o poster não representa o garbo e a delicadeza de movimento que caracterizam o futebol brasileiro.
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Dinamismo do cachorro na coleira, 1912
Giàcomo Balla (Itália, 1871-1958)
Óleo sobre tela, 90 x 110 cm
Albright –Knox Art Gallery, Buffalo, NY
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A maneira de expressar movimento, pela repetição de formas, de contornos semelhantes em diferentes posições no espaço poderia ter sido mais leve no traço e no ritmo. São passados exatos cem anos desde que as primeiras obras de arte trouxeram para as telas a ideia da repetição como maneira de demonstrar movimento. Influenciados pela fotografia e pelo cinema, artistas do movimento futurista e do cubismo usaram a repetição de formas para implicar movimento, no que foram mais tarde seguidos pelos artistas gráficos tanto em cartazes como no desenvolvimento de desenhos animados. Uma linguagem completamente revolucionária na época, falamos da segunda década do século XX, com a qual estamos, hoje, bem familiarizados.
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Nu descendo a escada nº 2, 1912
Marcel Duchamp (França, 1887-1968)
Óleo sobre tela, 145 x 87 cm
Museu de Arte da Filadélfia, EUA
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Reconheço que somos uma cultura com forte tradição do close-up. Basta vermos as tomadas de cena nos filmes e na televisão brasileiros para entendermos que gostamos das coisas bem próximas. Ninguém mais no mundo usa essa proximidade visual, onde é comum vermos até mesmo os poros dos atores em cena. Isso se reflete também no espaço que não damos às pessoas nas filas, à aproximação dos corpos em conversas casuais entre amigos nas ruas. Gostamos de estar mais ou menos em cima dos outros, mesmo que sejamos estranhos uns aos outros. Enquanto no Brasil um elevador de 1 m² pode carregar 4 pessoas, no exterior seriam permitidas só 2 pessoas, por causa desse espaço cultural. Nos veículos de transporte de massa, daqui, ninguém se sente mal se está espremido num banco para duas pessoas e sente o antebraço do vizinho encostar no seu. Entende-se que seja inevitável, principalmente quando os bancos de ônibus e metrô têm um braço na cadeira do corredor. Apertamento semelhante acontece com mesas em restaurantes, em bistrôs. No Brasil senta-se pelo menos um terço a mais do que poderiam sentar em outros países. Gostamos dessa falta de espaçamento. Espaço físico é cultural. Quando tratamos da informação visual não podemos ser diferentes, mas temos que considerar o quanto de informação visual estamos passando para quem observa. Na pintura, vem à mente o trabalho de Cláudio Tozzi que, com ou sem araras, consegue, assim como a televisão e o cinema, sufocar visualmente o observador.
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Papagália, 1981
Cláudio Tozzi (Brasil, 1944)
acrílica sobre tela, 57 x 57 c
m
10.000 moedas romanas encontradas na Inglaterra!
Foto: Shropshire Star
Nick Davies, um arqueólogo amador, que comprou seu equipamento de detenção de metais há um mês, em sua primeira aventura arqueológica, descobriu um vaso com pelo menos 10 mil moedas datando da Era Romana. As moedas foram encontradas na região na área de Shrewsbury, Shropshire, na Inglaterra. O Serviço de Museus do governo local acredita que as moedas tenham ficado enterradas por pelo menos 1.700 anos, já que foram cunhadas entre os anos 320 d.C e 340 d.C, no final do governo de Constantino I, quando o território inglês servia de zona de abastecimento de alimentos para o Império Romano. Na pilha, há moedas que comemoram o aniversário e a fundação de Roma e de Constantinopla. Juntas elas pesam aproximadamente 32 kg.
As moedas foram encontradas num grande e simples vasilhame de barro e enterradas no solo inglês. O topo do vaso já havia se quebrado mesmo sob a terra, ao longo dos anos, mas as 300 e poucas moedas que deslizaram para fora foram também recuperadas pelo arqueólogo amador. As moedas, aproximando em número 10.000, são todas de bronze. Algumas tem banho de prata. Elas eram conhecidas comoNUMMI, e eram comuns no século IV da nossa era. É provável que essa grande quantidade de moedas enterradas faça parte do tesouro de uma comunidade, ou de uma única pessoa, mas devem ser o resultado de pagamento por uma ou mais colheitas. Só não se pode imaginar porque essas economias não foram retiradas do solo por seu dono.
O grupo de moedas e o jarro em que foram encontradas foram mandados para o museu Britânico para um exame detalhado do material encontrado. No museu, o processo de limpeza das moedas, separação daquelas que se fundiram umas às outras e classificação deve levar diversos meses. Até lá essa descoberta não estará acessível ao grande público.
O Aleijadinho, artigo da Revista Kósmos de 1904
Anjo do Getsêmani,
Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho ( Brasil, 1730-1814)
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos — Congonhas do Campo, MG
Transcrição do artigo de Gustavo Penna, para a Revista Kósmos, Agosto de 1904, número 8.
NOTA: O artigo original não contém nenhuma ilustração.
O Aleijadinho
Se neste país, donde o patriotismo parece desertar, se erguesse um dia opanthéon destinado, destinado a glorificar na morte aqueles que em vida enobreceram a nossa terra, o cenotáfio de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, iria ocupar neste templo augusto, um lugar de honra, igual ao de Miguel Ângelo no Panthéon de Itália, em Florença.
O escultor mineiro, morto há noventa anos, tinha a misantropia ríspida de Beethoven, o temperamento assomado de Leonardo Da Vinci. Poderia dizer-se que aquelas mãos deformadas e engrunhidas pela doença, tendo alguns dedos cortados a golpes de formão em momento de desespero indômito, de dores crudelíssimas, haviam tomado aos poucos forma agressiva de garra de leão.
“Era pardo escuro,” relata Rodrigo Bretas, no Correio Oficial de Minas, em 1858. “Tinha a voz forte, a fala arrebatada, o gênio agastado; a estatura era baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabeça redondos, e esta volumosa, o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e basto, a testa larga, o nariz regular, beiços grossos, orelhas grandes, o pescoço curto.
Sabia ler e escrever e não consta que houvesse frequentado alguma outra aula além da de primeiras letras, embora alguem julgue provavel que tenha frequentado a de latim.
De 1777 começaram as moléstias a atacá-lo fortemente. Pretendem uns que ele sofrera o mal epidêmico que, sob o nome de Zamparina, pouco antes havia grassado nessa província , e cujos resquícios, quando o doente não sucumbia, eram quase infalíveis deformidades e paralisias, que nele se havia complicado o humor gálico com o escorbútico.
O certo é que Antônio Francisco perdeu todos os dedos dos pés, do que resultou não poder andar senão de joelhos; os das mãos atrofiaram-se e curvaram, e mesmo chegaram a cair, restando-lhe somente, e ainda quase sem movimento, os polegares e os índices.
As fortíssimas dores que de contínuo sofria nos dedos e a acrimônia de seu humor colérico o levaram por vezes ao excesso de cortá-los ele próprio, servindo-se do formão com que trabalhava!
As pálpebras inflamaram-se e permanecendo neste estado, ofereciam à vista sua parte interior, perdeu quase todos os dentes, a boca entortou-se, como sucede frequentemente ao estuporado, o queixo e o lábio inferior abateram-se um pouco; assim o olhar do infeliz adquiriu uma expressão sinistra e de ferocidade, que chegava mesmo a assustar que, quer que o encarasse inopinadamente.
Esta circunstância e a tortura da boca o tornavam de um aspecto asqueroso e medonho.“
Profeta Oséias
Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho ( Brasil, 1730-1814)
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos — Congonhas do Campo, MG
Para o Aleijadinho, o louvor era tomado como ironia ou escárneo. A fito de esquivar-se à vista de todos, ia de madrugada para o serviço, a cavalo, trajando um amplo capote com que ocultava o semblante, e somente regressava à casa depois de noite fechada.
Ainda mesmo quando trabalhava no interior das igrejas, costumava ocultar-se dentro de um toldo. Se algum curioso, — fosse obscuro popular, ou um genreal como D. Bernardo de Lorena, muito alto e poderoso governador, — ia vê-lo trabalhar, acompanhando por uns instantes o esculpir de uma estátua, que emergia lentamente de um bloco de pedra, o escopro do Aleijadinho, fazia esfarinhar violentamente tamanha chuva de lascas, que o importuno não se demorava, saraivado por aquela chuva de pedriscos e de pó.
E foi na solidão e no mesto silêncio das sacristias dos nossos templos, profusamente recamadas de ouro como as igrejas do oriente, naquela atmosfera impregnada de misticismo, que o escultor mineiro fazia surgirem da pedra bruta as notáveis concepções do seu gênio, ora a estátua que seria de outro mérito se fosse talhada no mármore de Carrara, ora esses lavores finos, as folhagens, os rendilhados e as laçarias que se podem chamar a ourivesaria de granito.
O Aleijadinho viveu numa época e num meio inteiramente hostil à arte, quando o governo português havia proibido o uso do cinzel, “para se não dilapidarem os quintos de Sua Majestade.” Nenhum dos elementos de educãção artística, de desenvolvimento do gosto, de ilustração, vulgarizados depois pela imprensa, pela fotografia, pela gravura e pela modelagem existia. Apenas algumas estampas de detestável impressão e de risível ingenuidade, intercaladas nos alfarrábios contando a vida e os milagres do santo.
Imagine-se o que nos poderia legar o artista mineiro se vivesse nos nossos tempos, e lhe fosse dado contemplar o mosteiro dos Jerônimos, enorme flor de pedra, a catedral de São Marcos em Veneza, o duomo de Milão, as maravilhas de Roma, as suntuosidades do Louvre!
Poucos trabalhos tenho visto do Aleijadinho, dos que opulentam muitos templos da arte mais antiga de Minas.
Cobertos já da patina formada pelo tempo, naquele ambiente de vetustez e de melancólico abandono que têm as nossas velhas igrejas quase todas, esses trabalhos apresentam nas linhas gerais a majestade harmônica que é a mais nobre qualidade da escultura.
Não têm, é inquestionavel, a graça feminil e a eloquência das estátuas de Canova, que se poderia denominar o Lamartine do mármore. Não são criações perfeitas e que , como o Moisés e o grupo da Pietá, de Miguel Ângelo, possam se considerar obras primas do cinzel. Mas, inegavelmente, denotam a inspiração de um artista genial esses variados trabalhos de escultura, cavados no granito bruto por mãos de um aleijado, sem nenhuma educação artística, mal pago, e que viveu num período tão ingrato para a arte.
O Aleijadinho foi também arquiteto e ainda nesse ponto encontro-lhe alguns traços de semelhança com o arrojado criador do zimbório da basílica de São Pedro e da galeria Dei Lanzi, de Florença. Dizer que um homem semelha a outro é coisa muito diversa do que considerá-lo igual, — seja dito a puridade — .
Em meio do estilo severo e pesado das construções religiosas do século último passado, nota-se nas que foram delineadas por ele, uma tendência para audaciosas inovações, imprimindo-se mais elegância no traço e mais harmonia no conjunto.
Em torno do sombrio burilador de pedra a fama cresceu com a lenda.
Ainda hoje há quem supopnha um ente misterioso, que encerrava-se invisível durante meses, entregue dia e noite ao trabalho, sem um ruído de martelo, até que a muda oficina, aberta um dia, mostrava a obra acabada. O escultor desaparecera misteriosamente, sem saber sequer o preço do seu trabalho.
Antônio Lisboa, o Aleijadinho, há de permanecer na história de Minas enquanto houver uma pedra em que ele esculpiu um trabalho de gênio com as suas mãos de mártir.
A página desta brilhante revista em que Artur Azevedo tratou desse escultor, animou-me a trazer também para aqui este rápido estudo, feito há tempos num jornal provinciano.
Sei que brevemente será erguida aqui na magnífica praça da Liberdade a herma de Bernardo Guimarães, e tenho motivos para crer que nessa Puerta del Sol da futura Madri brasileira outros monumentos hão de rememorar os grandes mineiros do século XIX.
Não seria então motivo de reparo se ao lado de Teófilo Ottoni, com o perfil inspirado e enérgico de Gambetta, de Andrade Neves, o Murat brasileiro, de Aureliano Lessa, o nosso A. de Musset, de Bernardo de Vasconcellos, de Paraná, com o seu largo semblante austero, de Bernardo Mascarenhas, o criador da indústria têxtil de Minas, do general Carneiro, de Christiano e outros, fosse levantado um dia também o busto do sombrio artista, atormentado gênio, impetuoso com os grandes e que procurava esquecer os suplícios do espírito e os tormentos do corpo no trabalho torturado de arrancar ao bloco de cantaria as admiráveis criações de sua inspiração.
Emergindo da aveludada relva a coluna branca, encimada pelo busto do artista, na paz e no aconchego das árvores amigas, aquele singelo monumento seria o mais nobre tributo de piedade ao mártir e de admiração ao gênio.
GUSTAVO PENNA
Belo Horizonte, Junho de 1904.
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