Após perder seu terceiro filho em um trágico aborto, o casal Kate (Vera Farmiga) e John Coleman (Peter Sarsgaard), que já tem outros dois filhos, Daniel (Jimmy Bennett) e Maxime (Aryana Engineer), que é surda-muda, o casal decide adotar uma outra criança. Na visita a um orfanato, eles conhecem Esther (Isabelle Fuhrman), uma garotinha de nove anos muito desenvolvida para a sua idade e que tem um histórico familiar triste e também misterioso. Mistério este que começa a intrigar Kate que desconfia do comportamento estranho de Esther e do fato de ela sempre estar presente quando algo ruim acontece. Mas, Kate terá de provar suas suspeitas e ainda reconquistar a confiança da família, já que se afundou tempos atrás no alcoolismo para superar a perda do bebê.
A história apesar de interessante não é original. A sensação é de que A órfã é um recorte de outros filmes já conhecidos no cinema. Para quem assistiu a O Chamado, irá se surpreender com falas idênticas a das protagonistas Naomi Watts (Rachel Keller) e Daveigh Chase (Samara Morgan, que muito nos tira o sono), além do enredo do amor materno ser um dos palcos das discussões da trama. Esther, a vilã, é uma criança com violência surpreendente, que nos faz lembrar Macauley Culkin em O Anjo Malvado. O ambiente frio do inverno e a casa na árvore que o digam.
A direção de Jaume Collet-Serra e as atuações de Vera Farmiga e Peter Sarsgaard são medianas, porque quem rouba todas as cenas é o elenco infantil. Aryanna Engineer (Maxime), que é realmente surda-muda, dá um show de interpretação como a criança amedrontada e ameaçada pela nova irmã. Jimmy Bennett (Daniel) também surpreende como o irmão, antes o mais velho, que rejeita Esther por ciúmes e que também sofre maus bocados nas mãos vilãzinha. Isabelle Fuhrman é a grande estrela da trama. Nos convence (até demais) num papel assustador, e dá calafrios até quando aparece como boazinha. Certamente, a jovem é uma das novas promessas para o cinema hollywoodiano.
O roteiro de David Johnson, baseado em estória de Alex Mace, surpreende o espectador que, com muita atenção, conseguirá descobrir o final do filme com as pistas lançadas durante as 2 horas de filme – que claramente enrola em muitas cenas. 1 hora pode com certeza ser cortada sem perdas no enredo. Desnecessário também o final alternativo, nada inovador.
A Órfã é um ótimo suspense, que rende sustos e nos deixa boquiabertos diante das atrocidades arquitetadas por Esther, uma menina que recebeu uma nova família que já era desestruturada, mostrando como pode ser difícil a adaptação tanto para pais e filhos quanto para o novo membro que chega ao clã. E, que não fique nenhum temor na vida real, à adoção de crianças mais velhas, algo que já é complicado atualmente.
Recriando a história do detetive mais famoso da literatura, Guy Ritchie (sim, o ex-marido de Madona) mostra que é mais do que um diretor de clipes musicais. Sherlock Holmes, de 2009, é uma aventura e tanto; bem feita, bem interpretada e muito inteligente, fazendo juz às muitas facetas de seu personagem central.
A Londres do final do século XIX é o palco para que o detetive Holmes (Robert Downey Jr.) mostre sua inteligência, lógica e métodos científicos para decifrar os casos os quais é contratado a investigar. Ao seu lado, o amigo sempre fiel e companheiro, o médico um tanto quanto conservador, Dr. John Watson, interpretado pelo galã Jude Law. Como vilão, temos Lorde Blackwood (o ótimo Mark Strong), que amedronta a todos com sua pinta de feiticeiro, menos a Holmes que não crê em nenhuma de suas magiaa. Juntos, Holmes e Watson irão desvendar os mistérios de Blackwood, que foi condenado a enforcamento após ser pego quase assassinando sua quinta vítima, uma mulher, num ritual de magia negra.
Sherlock Holmes nasceu de Sir Artur Conan Doyle em 1887 e publicado na revista Beeton's Christmas Annual. O ar despojado e charmosamente sarcástico que Ritchie dá ao personagem é perfeitamente incorporado por Downey Jr. Vencedor do Globo de Ouro de melhor ator, Downey está impecável no papel do irônico detetive, que se julga o sabe-tudo (e não é?) e com um alter-ego enorme (que muito lembra o antigo personagem do ator, Starck/ Homem de Ferro). Porém, o homem parece não ser dotado de sentimentos, salvo em dois momentos; um no aparecimento de seu antigo amor, Irene Adler (Rachel McAdams), uma astuta ladra; e quando se sente (notadamente) enciumado diante da possibilidade de perder seu grande amigo Watson, que irá se casar com Mary Morstan (Kelly Reilly), deixando de lado sua parceria com Holmes.
Enquanto as mulheres do longa fazem uma atuação morna e sem grandes destaques, os aplausos vão mesmo para os homens. Jude Law deu o tom certo ao discreto e realista Watson, mostrando um personagem carismático e apaixonante. Diga-se de passagem, a química entre ele e Downey é incrível e totalmente natural. Os dois parecem se divertir em cena, e isto é notado pelos espectadores. É Watson quem tira Holmes de seu mundo cheio de lógicas e razões, e as cenas em que os dois discutem são primorosas.
Ritchie usou bem os 128 minutos os quais correm a aventura para apontar os traços de personalidade de Sherlock Holmes descritos a cada obra de Conan Doyle. O diretor usou e muito do jogo dos planos de câmera e lentidão nas cenas em que o raciocínio lógico de Holmes é posto na mesa, e tudo é milimetricamente calculado antes de ser feito; como nas cenas de luta, que também reafirmam a afinidade de Sherlock com as artes marciais, por exemplo, o boxe. Os muitos momentos de tirar o fôlego nos faz esquecer, inclusive, a falta do tão famoso bordão “Elementar, meu caro Watson”. Foi até uma ótima sacada de Ritchie, que arriscou para deixar clara sua marca e personalidade em todo o andamento do filme.
Torna-se um clichê dizer que é preciso prestar atenção em um filme. Todos requerem esta prática. Mesmo em filmes como Sherlock Holmes, em que, no final, todos os detalhes anteriores são brilhantemente revelados pela ótica do próprio protagonista, a atenção deve ser redobrada. Bom é aquele filme empolgante que te incita a analisar cada pormenor e possibilitar ao espectador ser o Sherlock Holmes daquilo que assiste, sem esperar que o próprio filme entregue mastigado toda conclusão.
Palmas e mais palmas para a direção de Guy Ritchie em conjunto com o roteiro de Michael Robert Johnson, Anthony Peckham e Simon Kinberg. E de quebra, ainda ficou clara uma continuação para o filme. Mais um motivo para que os cinéfilos aguardem a sequência o quão logo possível.
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