"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina".

Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.

Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.

Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.

Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.

Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade.

Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando....

E termina tudo com um ótimo orgasmo!!!

Não seria perfeito?"

Charles Chaplin*

domingo, 3 de março de 2013

Critica - Filmes e videos


 Se Beber, Não Case

ATENÇÃO: Esta crítica contém alguns spoilers.
Comédia do final de 2009, Se beber, não case fez grande sucesso pela história que o torna possível de se tornar verdadeiro, se não fosse por alguns exageros. O primeiro erro do filme está na tradução. Uma crítica é sempre constante no ambiente cinematográfico: as traduções mal feitas de muitos títulos hollywoodianos, que hora entregam o final do filme, hora tiram a o seu tom atrativo. Com o longa em questão não foi diferente. O título original é Hangover, ou Ressaca. Algo mais propício para um filme que conta a história de quatro amigos que vão para Las Vegas, a cidade dos muitos segredos escondidos, para uma despedida de solteiro de um deles. Ao acordar no quarto do hotel após uma noite de bebedeira, eles tentam descobrir fatos intrigantes como o que faz um tigre dentro do banheiro? De quem é o bebê dentro do armário? Porque um dos rapazes está sem um dente? E o principal: onde está o noivo?
A história intrigante prende nos minutos iniciais da comédia, mas ela se perde ao longo dos 99 minutos diante das respostas para as questões acima que são respondidas de forma nada criativa. Já o tom de comédia é garantido pelo trio de melhores amigos – Phil (Bradley Cooper, de Ele não está tão afim de você), Stu (Ed Helms) e Alan (Zach Galifianakis, de Um parto de viagem) –, que estão bem afinados. O noivo desaparecido Doug (Justin Bartha, de A Lenda do Tesouro Perdido), pouco aparece em cena e praticamente nos esquecemos dele mergulhados na curiosidade de desvendar, junto com os três amigos pós-ressaca, o que aconteceu na noite anterior. Quem reforça o time de atores é a atriz Heather Graham, que interpreta uma prostituta. O tom de realidade se perde diante de algumas propostas e nelas o bom senso é deixado de lado. Que o diga a participação de Mike Tyson para justificar a aparição do tigre no banheiro. A atuação do ex-boxeador é vergonhosa e desnecessária.
Se beber, não case alcança sua proposta de fazer rir e é válida. Mas, tropeça em algumas situações que são difíceis de acreditar. Diga-se, de passagem, das cenas do traficante chinês que tinha tudo para ser engraçada. Mas não foi. E quem conseguiria, por exemplo, invadir a casa de Mike Tyson e roubar um tigre? Quem roubaria uma viatura policial e a receberia tranquilamente na porta do hotel no dia seguinte? Esta última questão tem claramente um tom de crítica politicamente incorreta à polícia americana, mas que cabe melhor aos espectadores de lá por ser uma piada regional e fora do nosso contexto. De pronto, a comédia foi um sucesso de bilheteria nos EUA e repetiu o feito no Brasil, mesmo com os cortes em algumas piadas mais ácidas e com alto teor sexual para diminuir a censura e permitir a exibição nos cinemas.
O longa não é de todo ruim. O time de ótimos atores garante o riso fácil, mesmo diante de cenas com fatos desastrosos. Explica-se o seu sucesso pela forte empatia que o público tem com a comédia.
Se todo filme, independente do gênero, tem uma mensagem a transmitir, me arrisco a deduzir que Se beber, não case não faz com que você seja contra o matrimônio. Ao contrário. O melhor é não beber demais na sua despedida de solteiro(a) e tomar cuidado com os amigos que você convida e as bebidas que eles podem vir a lhe oferecer.




A Órfã

Após perder seu terceiro filho em um trágico aborto, o casal Kate (Vera Farmiga) e John Coleman (Peter Sarsgaard), que já tem outros dois filhos, Daniel (Jimmy Bennett) e Maxime (Aryana Engineer), que é surda-muda, o casal decide adotar uma outra criança. Na visita a um orfanato, eles conhecem Esther (Isabelle Fuhrman), uma garotinha de nove anos muito desenvolvida para a sua idade e que tem um histórico familiar triste e também misterioso. Mistério este que começa a intrigar Kate que desconfia do comportamento estranho de Esther e do fato de ela sempre estar presente quando algo ruim acontece. Mas, Kate terá de provar suas suspeitas e ainda reconquistar a confiança da família, já que se afundou tempos atrás no alcoolismo para superar a perda do bebê.
A história apesar de interessante não é original. A sensação é de que A órfã é um recorte de outros filmes já conhecidos no cinema. Para quem assistiu a O Chamado, irá se surpreender com falas idênticas a das protagonistas Naomi Watts (Rachel Keller) e Daveigh Chase (Samara Morgan, que muito nos tira o sono), além do enredo do amor materno ser um dos palcos das discussões da trama. Esther, a vilã, é uma criança com violência surpreendente, que nos faz lembrar Macauley Culkin em O Anjo Malvado. O ambiente frio do inverno e a casa na árvore que o digam.
A direção de Jaume Collet-Serra e as atuações de Vera Farmiga e Peter Sarsgaard são medianas, porque quem rouba todas as cenas é o elenco infantil. Aryanna Engineer (Maxime), que é realmente surda-muda, dá um show de interpretação como a criança amedrontada e ameaçada pela nova irmã. Jimmy Bennett (Daniel) também surpreende como o irmão, antes o mais velho, que rejeita Esther por ciúmes e que também sofre maus bocados nas mãos vilãzinha. Isabelle Fuhrman é a grande estrela da trama. Nos convence (até demais) num papel assustador, e dá calafrios até quando aparece como boazinha. Certamente, a jovem é uma das novas promessas para o cinema hollywoodiano.
O roteiro de David Johnson, baseado em estória de Alex Mace, surpreende o espectador que, com muita atenção, conseguirá descobrir o final do filme com as pistas lançadas durante as 2 horas de filme – que claramente enrola em muitas cenas. 1 hora pode com certeza ser cortada sem perdas no enredo. Desnecessário também o final alternativo, nada inovador.
A Órfã é um ótimo suspense, que rende sustos e nos deixa boquiabertos diante das atrocidades arquitetadas por Esther, uma menina que recebeu uma nova família que já era desestruturada, mostrando como pode ser difícil a adaptação tanto para pais e filhos quanto para o novo membro que chega ao clã. E, que não fique nenhum temor na vida real, à adoção de crianças mais velhas, algo que já é complicado atualmente. 








Sherlock Holmes

     
  Recriando a história do detetive mais famoso da literatura, Guy Ritchie (sim, o ex-marido de Madona) mostra que é mais do que um diretor de clipes musicais. Sherlock Holmes, de 2009, é uma aventura e tanto; bem feita, bem interpretada e muito inteligente, fazendo juz às muitas facetas de seu personagem central.
        A Londres do final do século XIX é o palco para que o detetive Holmes (Robert Downey Jr.) mostre sua inteligência, lógica e métodos científicos para decifrar os casos os quais é contratado a investigar. Ao seu lado, o amigo sempre fiel e companheiro, o médico um tanto quanto conservador, Dr. John Watson, interpretado pelo galã Jude Law. Como vilão, temos Lorde Blackwood (o ótimo Mark Strong), que amedronta a todos com sua pinta de feiticeiro, menos a Holmes que não crê em nenhuma de suas magiaa. Juntos, Holmes e Watson irão desvendar os mistérios de Blackwood, que foi condenado a enforcamento após ser pego quase assassinando sua quinta vítima, uma mulher, num ritual de magia negra. 
        Sherlock Holmes nasceu de Sir Artur Conan Doyle em 1887 e publicado na revista Beeton's Christmas Annual. O ar despojado e charmosamente sarcástico que Ritchie dá ao personagem é perfeitamente incorporado por Downey Jr. Vencedor do Globo de Ouro de melhor ator, Downey está impecável no papel do irônico detetive, que se julga o sabe-tudo (e não é?) e com um alter-ego enorme (que muito lembra o antigo personagem do ator, Starck/ Homem de Ferro). Porém, o homem parece não ser dotado de sentimentos, salvo em dois momentos; um no aparecimento de seu antigo amor, Irene Adler (Rachel McAdams), uma astuta ladra; e quando se sente (notadamente) enciumado diante da possibilidade de perder seu grande amigo Watson, que irá se casar com Mary Morstan (Kelly Reilly), deixando de lado sua parceria com Holmes. 
        Enquanto as mulheres do longa fazem uma atuação morna e sem grandes destaques, os aplausos vão mesmo para os homens. Jude Law deu o tom certo ao discreto e realista Watson, mostrando um personagem carismático e apaixonante. Diga-se de passagem, a química entre ele e Downey é incrível e totalmente natural. Os dois parecem se divertir em cena, e isto é notado pelos espectadores. É Watson quem tira Holmes de seu mundo cheio de lógicas e razões, e as cenas em que os dois discutem são primorosas.
        Ritchie usou bem os 128 minutos os quais correm a aventura para apontar os traços de personalidade de Sherlock Holmes descritos a cada obra de Conan Doyle. O diretor usou e muito do jogo dos planos de câmera e lentidão nas cenas em que o raciocínio lógico de Holmes é posto na mesa, e tudo é milimetricamente calculado antes de ser feito; como nas cenas de luta, que também reafirmam a afinidade de Sherlock com as artes marciais, por exemplo, o boxe. Os muitos momentos de tirar o fôlego nos faz esquecer, inclusive, a falta do tão famoso bordão “Elementar, meu caro Watson”. Foi até uma ótima sacada de Ritchie, que arriscou para deixar clara sua marca e personalidade em todo o andamento do filme.
        Torna-se um clichê dizer que é preciso prestar atenção em um filme. Todos requerem esta prática. Mesmo em filmes como Sherlock Holmes, em que, no final, todos os detalhes anteriores são brilhantemente revelados pela ótica do próprio protagonista, a atenção deve ser redobrada. Bom é aquele filme empolgante que te incita a analisar cada pormenor e possibilitar ao espectador ser o Sherlock Holmes daquilo que assiste, sem esperar que o próprio filme entregue mastigado toda conclusão. 
        Palmas e mais palmas para a direção de Guy Ritchie em conjunto com o roteiro de Michael Robert Johnson, Anthony Peckham e Simon Kinberg. E de quebra, ainda ficou clara uma continuação para o filme. Mais um motivo para que os cinéfilos aguardem a sequência o quão logo possível.


















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