"Acho que o homem deveria nascer com oitenta anos. Nasceria com oitenta anos , iria ficando mais novo, mais novo, mais novo até morrer de infância!
Chego inclusive a imaginar uma mãe comunicando o nascimento do filho:
- Menina, meu filho nasceu! Pensei que não fosse nascer mais tava encruado. Nasceu com oitenta e quatro anos! Mas perfeitinho: um metro e setenta e seis, setenta e seis quilos. Eu ia botar o nome de Luís Cláudio, mas ele próprio foi ao cartório e se registrou como Haroldo!
E nos berçários, aquela fila de cadeiras de balanço , com velhinhos sentados... tossindo, pigarreando.
Todos assistidos por geriatras, já que padecendo eles todos dos males comuns aos recém nascidos: gota, artritismo, lumbago, reumatismo...
O homem nasceria com oitenta anos , aos sessenta se casaria com uma mulher de cinqüenta e nove, mas com uma vantagem: cada dia , a cada semana, a cada mês ela ficaria mais e mais jovem, até se transformar numa gata de vinte!
Com oitenta anos nasceria rico, sábio e... aposentado!
A partir de então, passaria a ganhar menos, menos; entraria para faculdade, desaprenderia tudo! Voltaria aquele estagio de ingenuidade, de burrice, de pureza! Depois, a bicicleta, o velocípede, desaprenderia a andar, esqueceria como engatinhar .
Então, o voador, do voador para o chiqueirinho, do chiqueirinho para o berço, as trocas de fraldas, aquelas três gotas de remedinho no ouvido, o chá de erva doce para dorzinha de barriga, a chuca, o peito da mãe... e pararia de chorar!
Mas a vida, então teria que ser recriada, o mundo teria que regredir séculos... Cabral e Colombo descobririam o Novo Mundo, o homem desinventaria a roda, atingiria o desconhecimento da pólvora e do fogo, até chegar a Adão, o ultimo homem. O ultimo primeiro aquém Deus, colocando sobre sua mão, em vez de lhe soprar a vida, o inspiraria novamente para dentro de si mesmo..."
(Marcos César)
Nenhum comentário:
Postar um comentário